domingo, 14 de novembro de 2010



Onde vou me hospedar? Decidi passar dois meses fora do Brasil e ainda não tenho hospedagens reservadas em todos os lugares, ainda não defini em quais albergues, pensões, hotéis e casa de amigos eu repousarei meu corpo nas noites deste inverno europeu, mas já sei onde repousarei os relatos desta viagem: Maraîchage, o blog-pensão da @anarina.

Já estou na Europa, começo minha aventura pessoal em Lisboa. Cheguei no dia 12 de novembro e planejo voltar para o Brasil no dia 7 de janeiro. Na minha mente e na minha planilha de gastos estão previstas passagens por Espanha, Inglaterra, França, Grécia, Itália e Suíça. Os destinos foram se definindo pelos meus desejos e pelos convites de amigos. Viajo sozinha, mas não vim ao encontro da solidão.

Obrigada pelo abrigo, Carol.

sábado, 13 de novembro de 2010

Foi o que fizemos aqui hoje.

Minha viagem já acabou. Em alguns momentos parece que tudo não passou de um sonho. Tento me desvenciliar da avalanche pós-viagem concentrando todas as minhas energias em resgatar aquela pessoa que eu era quando só eu dependia de mim e eu só dependia de mim.

Tenho dezenas de posts pensados para esse blog, queria escrever um sobre cada pessoa especial que conheci. Mas não é o momento de reencontrar essas pessoas. Agora tenho que buscar a mim mesma, voltar a me reconhecer nos meus próprios atos, sobreviver ao rebatismo.

Portanto me retraio, saio de cena, me retiro aos meus aposentos, onde quer que estejam. E minha amiga Sarita passará a tomar conta do Maraichage.

Sarita Bastos, jornalista de São Luís do Maranhão, é baixinha como eu mas várias vezes mais forte. Viaja pela Europa sozinha pela primeira vez, começando por Lisboa. Ofereci meu blog porque às vezes penso que a superpopulação de blogs no mundo provoca um abandono cruel e injusto de bons nomes e layouts de blog.

Muitas viagens acabam. Mas muitas viagens começam. Sarita é uma ótima semeadora e espero que vocês colham os frutos junto com ela. E comigo.

 Bia, eu e Sarita

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O que e fiz na França publiquei na Piaui de outubro de 2010. Você pode comprar na banca e abrir na página 16 para ver uma foto minha gigante com as cebolas que passei três dias colhendo.

Ou clicar abaixo e ler o texto no site da revista (mas a foto está muito pequena que na versão impressa):

http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao_49/artigo_1425/Em_busca_de_raizes_organicas.aspx

sábado, 9 de outubro de 2010

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

terça-feira, 5 de outubro de 2010

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Hoje me despedi da Suécia, já estou em Londres, quarta volto para a Espanha, dia 8 tô no Brasil. Mas só passei aqui para publicar um texto que achei no blog da minha hermana Marina.

A nossa casa é aquele sítio onde crescemos. Não, corrige. É o lugar onde temos todas as nossas coisas. Errado. Onde vivem os nossos pais. Nem sempre. Onde estão as recordações. Mentira. É aquele lugar que tem cheiro familiar, gosto de tempero da avó e histórias em cada esquina. Isso é só para os mais sortudos.
Casa é tudo aquilo que levamos numa mudança. E tantas outras coisas que o camião não pode carregar. Casa é mais do que matéria. Isso sim. Casa é onde nos sentimos em casa. Mas quando aquela que era a nossa casa é divida em três caixotes: dar, levar, ficar; quando o nosso perfume é substituído pelo cheiro a fita-cola; quando a nossa boneca de infância é encaixotada sem piedade… Quando vemos tudo isso acontecer, concluímos: nós somos a nossa própria casa. Nem pais, nem amigos, nem bonecas. Nem moveis, nem edifícios, nem vizinhos. A nossa casa somos nós. Eu. Carne, osso e espirito. O resto é só romance.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Hoje é uma lição que eu conheço bem. Aprendi na marra, mas digeri com o passar dos anos. Viagem é escolha. Não dá pra ver tudo, tirar foto de tudo, comprar tudo, fazer caber tudo na mala e lembrar de tudo quando chegar em casa.

Eis algumas oportunidades perdidas nessa viagem que vai chegando ao fim:

Xacobeo: a data mais importante da Galícia, mas que só quando cai num domingo é realmente especial. Perdi, por estar viajando, uma lista infindável de shows, incluindo Pet Shop Boys e Muse.

Guernika: visitei essa cidadezinha num dia de greve geral, ou seja, o Museu da Paz estava fechado. Nhé.

Tour de France: o plano foi muito bem desenhado para que estivéssemos, Trisha e eu, na linha de chegada de uma das etapas do Tour. Só esquecemos de um detalhe: nos últimos 50 quilômetros, os ciclistas usariam a mesma estrada que nós, e por isso ela foi fechada duas horas antes de que tentássemos passar por ali. O prêmio de consolação foi ver os ciclistas passarem ali mesmo:



Jogo do Fenerbahçe: faltou tempo e saúde para ir até o lado asiático encontrar o professor de história mais legal da Turquia, que tinha arranjado até um encontro com o Lugano. Não vou me alongar nessa história, mas quase me joguei pela janela quando descobri o preço que paguei pra passar o dia no Final Cut Pro.

Jogo da Seleção Turca: contra a Romênia, e o mesmo professor de história tinha conseguido até camisas da seleção pra gente. Mas não ia dar tempo de ir até lá, de novo.


Exames de idiomas: Meus exames de francês e galego foram no começo de junho, quando eu estava no Brasil a trabalho, então perdi. Ainda bem que tinha uma segunda convocatória, em 2 de setembro. Pena que eu estava em Estocolmo né?

Helsinki: Cinco semanas na Suécia e não deu para dar um pulo na Finlândia para rever Heidi e Tuulia, minhas amigas do intercâmbio. Há dez anos não nos vemos, e só hoje concluí que realmente seria impossível esticar essa viagem até lá. "Dar um pulo" em Helsinki envolve 16 horas de viagem (DE IDA), by the way.

sábado, 11 de setembro de 2010

"People are always talking about freedom. Freedom to live a certain way, without being kicked around. Of course, the more you live a certain way, the less it feels like freedom. Me? I can change during the course of a day. When I awake I'm one person and when I go to sleep I know for certain I'm somebody else. I don't know who I am most of the time.It's like you got yesterday, today and tomorrow, all in the same room. There's no telling what can happen."

domingo, 29 de agosto de 2010

quiche de espinafre

 

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Mala: Ela era boa (parecia). Comprada em Roma na Semana Santa de 2009, substituindo outra que já tinha dez anos e era (literalmente) um saco pra carregar. Verde clarinha, rodinhas super potentes, extremamente satisfatória. Quebrou na fatídica noite de 30 de julho de 2010 entre a Galta Tower e a estação de metrô Davutpasa (tem uma cedilha embaixo desse S). A memorável noite em que cheguei ao Congresso Mundial da Juventude escoltada por três policiais de Istambul. Conto essa história se vocês pedirem por favor. Causa mortis: lacre da alça de puxar rompido, alça lateral rasgada, metade do suporte das rodinhas quebrado e um dos pés de suporte estourado quando passei com ela muito rente a uma parede. Ops.

Mala [2]: Ela já parecia ruim. Comprada em Istambul, substituindo a do parágrafo anterior. Istambul é uma cidade muito barata, muito muito barata. A mala em questão custou o mesmo que a mala de Roma, que não é uma cidade barata, nem um pouco barata. A ilusão me fez pensar que Mala [2] duraria no máximo dois meses e que tudo bem porque eu já planejava me desfazer da Mala após essa viagem e então Mala [2] teria uma vida curta mas bastante viajada animada diferente das malas que só servem para carregar a mercadoria da casa para a feira e da feira para casa o que é mais menos o destino da maioria das malas que já de cara parecem ruins. Ufa! Mala [2] tinha a alça extremamente temperamental e emperrou já no caminho entre a universidade e o aeroporto Ataturk. A inutilização total chegou como surpresa na esteira do aeroporto Heathrow em 13 de agosto de 2010: um dos zíperes estava quebrado.

Par de sandálias: Elogiadas pela alemã por sua simplicidade e comodidade. Sola de madeira, tiras de elástico cor bege. Compradas em Franca, a capital nacional do calçado, há não sei quantos anos. Abduzida por alienígenas entre Carcassonne (França) e Istambul em 29 de julho de 2010, provavelmente durante o reposicionamento da bagagem no aeroporto de Barcelona. Teve uma vida longa e feliz, conheceu em profundidade cidades como Buenos Aires, La Coruña, San Sebastián, Barcelona e... Istambul! Foi encontrada após dez dias de buscas (e uns 70 reais para comprar outro par de sandálias boas e duráveis, mas que machucam o pé, merda).

Pente: Era tão bonitinho, de madeira e pequenino, cabia em qualquer lugar. Roubado da minha irmã mais nova (foi mal aí, sister). Criança desaparecida na viagem entre Manisa e Istambul entre 9 e 10 de agosto de 2010. Não há pistas de seu paradeiro.

Pente [2]: Sim, eu tinha dois pentes, gostava dos dois e resolvi levar ambos para o caso de perda de um deles (jênia!). Aí perdi os dois. Esse era de plástico, verde, grande e com dentes separados, uma delícia para pentear os cabelos. Perdido entre a casa do meu amigo em Londres e a casa do meu amigo em Estocolmo. Suspeita-se que o desaparecimento tenha acontecido em 17 de agosto de 2010 durante a retirada de objetos da mala de mão para colocar os malditos líquidos dentro do maldito saquinho de plástico. Em determinado momento minha filmadora caiu da mochila embaixo da mesa e eu a vi, a peguei e disse "ufa, ainda bem que percebi!"

Carregador do celular: Cor cinza, carregador da marca Samsung, dois dentes de metal não-redondos (passei cinco inúteis minutos tentando encontrar melhor descrição). Oficialmente dado como desaparecido em 23 de agosto de 2010, não sei como, duvido que tenha caído junto com o pente acima, suspeito que esteja em Londres ou no meio da minha mala, esperando para repetir a traquinagem das sandálias. Sigo conectada ao mundo graças (bom, tem a Internet) ao meu recém-adquirido talento para falar turco. O amigo do meu amigo é turco e me achou legal porque eu aprendi turco na Turquia (acreditem, não é comum) e me emprestou o dele. Daqui a cinco dias, porém, vou mifu.

Par de tênis: Estilo converse, cor preta, sola preta, cadarço preto, cano médio. Barato mas confortável, galego mas espertinho. Conheceu quatro continentes, mais especificamente Brasília, Andaluzia, Marrocos, Occitânia, a parte asiática de Istambul e até a Escandinávia. Deu os últimos suspiros ontem, 24 de agosto de 2010, após extensa caminhada de mais de seis horas e quinze quilômetros pelas ruas de Estocolmo. Minhas duas bolhas no calcanhar que o digam.

Fones de ouvido: ainda não morreram mas estão (literalmente) por um fio. Rezem comigo, Brasil. Óbito: 16h39, 25/08/2010.

Que em paz descansem todos os outros.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Comprei a passagem. Volto ao Brasil em 50 dias.



Meu coraçãozinho já está lotado de amizades novas, experiências indescritíveis, memórias que ainda não consegui digerir plenamente.


Meu MSN já está lotado de mensagens perguntando em que parte do mundo estou. Todo mundo, inclusive eu, já perdeu a conta. Outro dia, numa estação de trem, olhei para a plataforma do Eurostar e pensei "que estranho, por que tem uma plataforma do trem que vai de Paris a Londres justo aqui?"... Tinha esquecido que estava em Londres.

Mas o meu problema agora não é o passado. É o futuro.



Duas semanas na Coruña ou só oito dias? Voltar antes de Estocolmo a Londres para aproveitar mais Londres? Ou voltar depois de Estocolmo a Londres para aproveitar mais Estocolmo?



Quanto valem os momentos imperdíveis? Mais ou menos que as multas para mudar a data das passagens aéreas?

Carpe esse diem, ou o outro diem?

Teremos cachaça suficiente para a festa de despedida?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Gravei um vídeo na casa do Johan para tentar decidir se a comida na Suécia é cara ou não.

Estou limpando meus rascunhos no Gmail (tenho mais de 360, alguém ganha de mim?) e achei esse resumo sobre um fim de semana que passei no Rio de Janeiro em 2007.


quinta dei uma voltona pelo centro, joguei bola com uns moleques do lado da escadaria da lapa, debati com uns imbecis fazendo passeata contra a legalização do aborto, vi uma exposição ótima sobre a história de portugal no CCBB e conheci um estudante de cinema da estácio de sá que escreve poemas, mto gente boa
sexta fui com duas inglesas do albergue no jardim botânico, lagoa rodrigo de freitas, introduzi as duas no ritual "restaurante por quilo" e subimos no corcovado, mesmo com neblina
e à noite fui com 12 gringos pra lapa, mas não entramos no democráticos, tava caro demais, fomos em uma balada enorme que abriu semana passada lá do lado
sábado foi o dia da chuva e da ressaca, de tarde fui com dois meninos da inglaterra e áfrica do sul pra uma aula de capoeira, depois jantamos todos no albergue
e domingo tava sol então corremos pra praia pra torrar um pouquinho
Eu já sabia de tudo isso, mas divido com a turma para quem quiser me entender um pouco melhor.

terça-feira, 17 de agosto de 2010



(Jean-Sébastien Monzani - jsmonzani.com)

domingo, 15 de agosto de 2010

Vídeo que co-produzi em Istambul:

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Postado originalmente no Blog das 30 Pessoas.

Ontem acordei querendo a minha cama. Aquela distante alguns milhares de quilômetros, com o colchão duro demais naquele quarto pequeno lotado de caixas com meus cadernos do colégio, textos da faculdade, bichos de pelúcia canadenses e pertences valiosos e impossíveis de descartar que já escaparam da minha memória.

Não estou acostumada a querer essa cama e suspeito que o mal-estar estomacal, atualmente o maior problema diplomático entre Brasil e Turquia, seja o grande culpado dessa vontade que, convenhamos, já passou.

O 5º Congresso Mundial da Juventude tem uns 1200 delegados de uns 150 países. Muitas floras intestinais estão padecendo com o intercâmbio bacteriano, mas a delegação brasileira parece ter sido especialmente afetada pelo choque cultural. Somos apenas 11, mas mais da metade agora tem como tema majoritário de conversas o estado físico e emocional dos respectivos intestinos. Trocamos confidências, abraços e dicas durante as refeições ou pelos corredores.

A revolta delgada e grossa ganhou fôlego no momento menos oportuno: os projetos de ação. Cada “aile” (família nas quais os delegados foram divididos) viajaria para um canto diferente na Turquia durante quatro dias para trabalhar voluntariamente em projetos locais. Por motivos de força maior, quase todos os brasileiros tiveram que desistir da ideia de passar várias horas dentro de um ônibus sem banheiro.

A família Kestane Sekeri, à qual pertenço, saiu de Istambul e veio para Manisa, uma cidade perto do Mar Egeo. Fomos batizados com o nome de uma comida que antes haviam dito que era doce, mas depois explicaram que era salgada. Estivemos dentro de um ônibus das 9h às 17h, com direito a cruzar o Mar de Mármara em uma balsa e parar em um shopping mais sofisticado que o Graal para almoçar. Encontrei um purê de batatas providencial e passei o dia bebendo Coca-Cola, a indicação do meu pai para combater a desidratação.

Mas por aqui não faltam remédios caseiros que garantem ser tiro e queda. Quase topei comer uma colher de chá de café turco em pó com limão, mas preferi uma pílula de carvão e o combo aspirina+refrigerante, ainda que isso tenha me custado um discurso dos esquerdistas radicais sobre como a Coca-Cola é tão cruel que é impossível que ela possa me fazer bem. Não entendi direito qual é a mágica do carvão, mas dizem que ele “absorve tudo”.

Tanta coisa interessante para dizer sobre a Turquia e eu aqui compartilhando detalhes sobre cocô...

--Bônus: cinco parágrafos soltos que não mencionam dejetos sólidos nem líquidos—

Istambul tem 2.500 mesquitas. Todas elas se fazem ouvir pelo menos 5 ou 6 vezes ao dia, nos horários em que os muçulmanos devem parar o que estão fazendo e rezar em direção a Meca. Que coincidência, acaba de começar o chamado do último horário de reza.
Em Manisa somos 24 pessoas dos seguintes países: Brasil, Canadá, EUA, Argentina, Bangladesh, Marrocos, Alemanha, Albânia-Itália, Paquistão, Egito, Palestina, Iêmen, Polônia, Nigéria, Geórgia, Austrália, Nepal. Devo ter esquecido alguém.

O café-da-manhã inclui tomate e pepino. Todo. Santo. Dia. De vez em quando comemos batata frita nas três principais refeições. Comíamos, é claro, mas prometi não abordar esse assunto.

Meu turco ainda vai me levar longe. Sei dizer “olá”, “tudo bem?”, “meu nome é Carolina”, “eu sou do Brasil”, “eu sou jornalista” e, por fim, “eu não sei falar turco”. É o suficiente para ganhar a simpatia dos seguranças do campus e motoristas de ônibus, além de descontos em lojas.

Domingo quase dei de presente para o meu pai um genro argentino. Sebastián e eu havíamos sido escalados para o papel de noivos num casamento típico turco. No fim, para evitar ensaios, trocaram os noivos e fomos só coadjuvantes suados (suspeitamos que os casamentos só acontecem no inverno, dada a quantidade de peças de roupas nas quais fomos enfiados). Papai, pode respirar aliviado!

terça-feira, 27 de julho de 2010

Mas não quero falar sobre isso agora.

Fiquem com fotos:


sexta-feira, 9 de julho de 2010

(publicado originalmente no Blog das 30 Pessoas)
 
Já não sei há quantos dias estou aqui. Cheguei numa sexta e hoje é quinta-feira, o que se supõe que vivo no meio do nada há uma semana. Mas, como boa cigana que sou, já esqueci como é o som da descarga e a cor de unhas demasiado limpas. Parece que sempre trabalhei das 6:30 às 10:30 arrancando as ervas daninhas que sugam a água das berinjelas, podando os pés de tomate e colhendo batatas vermelhas e brancas.

Removo a terra com as minhas próprias mãos atrás das raízes e nem percebo se há alguma minhoca, besouro, grilo ou plantas espinhosas ao meu redor. Descobri que existe minhoca verde.

Minha casa tem paredes brancas e teto verde. É feita de nylon e a porta é do mesmo tamanho que a janela, as duas se fecham com zíper. Dentro, um colchão, meu saco de dormir, um travesseiro, uma mala com algumas roupas, alguns livros e a minha revista de palavras-cruzadas, que já chega perigosamente ao final.

Os dias duram 16 horas. O calor é tão forte que saio da ducha suando e até a água do lago deixa de refrescar a partir do quinto segundo. Para se referir ao calor infernal, insuportável, sufocante, dos diabos, por aqui empregam uma palavra que também existe em Português, mas que eu nunca tinha escutado antes: canícula. Agora entendo os velhinhos que literalmente morrem de calor no verão francês e viram notícia mundial.

Meu vocabulário continua limitado: chaud, chaleur, canicule, été, lac, douche, eau são os substantivos que eu mais uso. O ser vivo mais citado é a mouche, ou seja, a mosca. Ontem Marielle montou uma tenda para Salomé poder dormir em paz. Aos dois anos e três meses, ela já fala fluentemente a frase « as moscas perturbam », com o sotaque do sul da França, para diversão dos pais, emigrantes do norte.

Amanhã à noite faremos uma receita brasileira: arroz com feijão, e brigadeiro como sobremesa. Até agora não entendi que raciocínio me fez decidir não carregar comigo um pacote de pão de queijo, acho que esse é o fim da minha carreira internacional como garota-propaganda da Yoki, atuando no Canadá, Alemanha, Dinamarca, Inglaterra, País de Gales, Espanha, Bélgica, Holanda, Argentina e Suíça.

Espero comentários, posto que tive que subir uma ladeira e atravessar o galpão das abelhas para usar o computador do vizinho com teclado francês faltando varias teclas. E já anoiteceu, portanto vou fazer o caminho de volta na escuridão total.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Quando o Alexandre Inagaki te convoca, não tem como fugir. Coloquei até a mãe no meio para rastrear o passado e descobrir qual foi o primeiro livro que eu li.

Dona Diva, imortalizada em 2008 pelo Doni, mas que volta hoje ao papel de coadjuvante da blogosfera anarística, respondeu prontamente ao meu e-mail perguntando qual era o primeiro livro que eu li. Acho que ajudou o "IMPORTANTE" que eu coloquei no título da mensagem. Precisei dela porque tenho muitas memórias da minha infância relacionada a livros, mas elas estão misturadas em uma salada cronológica.

Minha lembrança mais forte é a Coleção Barra Manteiga (sim, a coleção inteira). Durante uma fase da minha vida, mamis me levava uma vez ao mês à Livraria da Vila para que eu escolhesse um livro. Foi assim que completei essa coleção, mas só me lembro de um episódio: certo mês, consegui convencê-la a comprar dois livros, em vez de um. Diz ela que eu tinha oito anos nessa época. Um dos livros era Os lençois do fantasma ziguezague e eu adorava a história do fantasma super assustador e também muito fashion, com lençois coloridos e estampados de tudo quanto é jeito.



Só que, no final, você descobre que ele tem um armário cheio de lençois porque na verdade o corpo dele é feito de palitos de sorvete, e isso não assusta ninguém, verdade? O que aconteceu foi que eu fui lendo um dos livros no carro, e o segundo terminei antes da janta daquele mesmo dia. Eu bem que tentei choramingar para conseguir renovar o meu estoque, mas a mamis era casca grossa meu! (e sorte que ela não tem Gmail, não sabe fazer uma openID, e por isso não consegue comentar no blog)

Bom, não foi esse nem o primeiro nem o último livro que eu li. Mas como as provas do carbono-14 não funcionam para a memória, o máximo que consegui foi chegar a três finalistas:

1) As pintas do preá
Esse quem desenterrou do baú foi a mamis. Eu nunca teria pensado nele, mas lembrei na hora do quanto eu adorava os desenhos dos preás (dá pra perceber que desde que criança meu estilo de moda era bem, digamos, alternativos, né?). A cada página aparecia um preá decorado de uma maneira diferente do anterior, e o livro é todo em rimas. E segundo a Dona Diva eu tinha essa coleção inteira (o Google avisa que é a Coleção Gato e Rato)


2) Lúcia Já-Vou-Indo
Eu a-ma-va a Lúcia, em alguma época da minha infância. Que livro bem desenhado, que azul lindo usaram para pintar a lesma rechonchuda que estava atrasada para uma festa.  E o alface que ela carregava? Acho que li esse livro 463 vezes. Mas não lembro de uma palavra, por isso nem pergunte!


3) Flicts (SPOILER ALERT!)
Duvido que Flicts tenha chance de ter sido meu primeiro livro. Mas, como o Paraguai na Copa da África, vou tentar arrastá-lo o máximo possível, porque de longe é o livro que mais me marcou, depois de Crepúsculo (brincadeira, brincadeira! nem li esse). Flicts, para quem não sabe, foi escrito pelo Ziraldo e conta a história de uma cor que, por não ser tão popular como o vermelho, o azul, o amarelo, etc., acabava sendo rejeitada pelos objetos. Ninguém queria ser da cor flicts, por mais que ela viajasse pelo mundo para encontrar um lugar onde viver. Daí ela foi sumindo, sumindo, sumindo, até que por fim encontrou seu lugar. Na última página, Ziraldo revela: a Lua é flicts.


Eu gosto tanto dessa história sobre diversidade e toletância que, quando fazia intercâmbio no Canadá e a professora de francês nos deu como projeto a produção de um livro, eu não pensei duas vezes: traduzi o Flicts, desenhei todas as páginas, colori e coloquei até papel contact na capa. Fez menos sucesso que o brigadeiro que eu preparei pro projeto de culinária, mas valeu o esforço né?

Bônus: A Galinha Ruiva
Se você se sentiu mais ludibriado com esses três finalistas do que lá no meu post sobre nudismo, aqui vai, definitivamente, sem sombra de dúvidas, a primeira história que eu já ouvi na minha vida: A Galinha Ruiva. Diz a Dona Diva que essa foi a primeira história que ela leu pra mim. E, ao contrário do Flicts, eu não aprendi absolutamente nada do que deveria com a moral da história da galinha que plantou o trigo, colheu o trigo, amassou o trigo, fez o pão e, já que nenhum dos outros animais quis ajudá-la com o trabalho, no final ela não dividiu o fruto do trabalho com ninguém (rá! não avisei do spoiler! estou num parágrafo meio #kakabadboy). Não lembrava da história, mas juro de pé junto que, quando a lia aqui nessa página tinha certeza que no final a galinha compartilharia o pão com os amiguinhos preguiçosos. Tolinha eu, né?

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Porque só assim eu acordaria hoje achando que ia passear com o meu mapa por Bilbao, mas acabei fazendo uma roadtrip em um furgão vermelho até a antiga árvore de Guernica, almoçando no porto de Lekitio durante as festas do Dia de San Pedro, chocando crianças em férias ao fazer topless em uma praia onde ninguém praticava o nudismo e por fim mergulhando no Atlântico Norte, que aqui mais para o norte é menos gélido que lá na minha casita.


Não, não tem foto do nudismo, gênio.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Oito horas dentro de um trem e me lembrei das viagens que fiz em 2004 e 2005. Passava até 20 horas viajando, cruzava três fronteiras de uma vez, puxava papo com todo mundo que sentava ao lado e não me cansava de ficar olhando a paisagem.

Em compensação, 10 horas voando é tortura maior do que ser chileno e ter que enfrentar o Brasil nas oitavas. Deviam colocar nos aviões, em vez da janelinha, uma tela onde passasse qualquer filme gravado do lado de fora de um trem em movimento. Muito melhor do que o novo Alice no País das Maravilhas que me colocou para dormir no último GRU-MAD.

Foi a minha primeira vez com a Feve, empresa de trens espanhola que funciona só no norte do país. No resto temos a Renfe, que opera o meu conhecido trecho Coruña-Santiago, que nem parece trem, já que a paisagem é feia de doer. Sobre rodas minha amiga é a Alsa, que premia os clientes organizados com descontos de 50% em viagens entre a Galícia e Portugal.

Mas quando eu era mochileira menor de 26 anos eu viajava com o passe Eurail, e então eu não raciocinava em empresas, pensava só em cidades e países. Minha grande parceira era a alemã Die Bahn, que me dava todos os horários e itinerários da Europa e então era só eu anotar no meu caderninho de viagens e aparecer no dia, na hora e na plataforma para subir no vagão que me desse na telha (desde que do lado de fora houvesse a sutil indicação "Segunda Classe").

domingo, 27 de junho de 2010



Se existe uma cidade bonita em demasia, essa cidade é Oviedo. Astúrias já deixa claro, de entrada, que o feísmo galego não é contagiante.

É a cidade mais limpa do mundo (parece que existe um prêmio do tipo, e Oviedo ganhou). Depois que o caminhão de lixo passa recolhendo o lixo, outro caminhão passa recolhendo as lixeiras para que a cidade fique mais charmosa. Sim, pelo visto dá para ficar ainda mais charmosa.

Todas as casas são charmosas, pinturas impecáveis em todas as paredes, as ruas de pedestres são de mármore cor-de-rosa e a cada esquina uma estátua diferente vem atiçar a imaginação.

A unificação da Espanha nasceu aqui, no primeiro reino que começou a engolir tribos de visigodos, se difundiu boa parte da península e, por fim, abocanhou a Andaluzia dos árabes.

Quem me hospeda é o Fran, um ex-professor de carpintaria que eu nunca tinha visto na vida, como é do meu feitio. Mas, para acalmar a mamis e as titias, temos amigos em comum lá na Coruña, tá bom?

Abaixo, um vídeo que revela a dimensão da minha bagagem, os meus descabelos e a cama onde eu dormirei hoje. Amanhã verei o Brasil eliminar o Chile lá do País Basco.

Por outro lado, meninas pequenas com malas grandes atraem pena e sempre conseguem dividir a carga durante o caminho.

sábado, 26 de junho de 2010

Borboletas e couchsurfers me estão tirando o apetite. Não quero listar as pendências para evitar perder todo o tempo que me resta listando o que eu deveria estar fazendo em vez de listagens. Meu caderno de viagens já tem cara e agora começa a ganhar forma:


Para quem não conhece o antigo, fiz um vídeo sobre ele para o blog da Lucia Malla:

Meninos podem viajar com o mundo nas costas. Eu caio para trás com o peso.
Meninos só precisam de duas calças, uma delas com zíper para virar bermuda, três camisetas e um moletom.
Um par de tênis e um par de chinelos e os meninos cobrem todas as situações possíveis, porque meninos podem ir a festas e jantares com o mesmo par de tênis que calçaram para acampar na cidade anterior.
Meninos fariam a minha viagem com um mochilão e não estariam de cabelos em pé, às 00h41, tentando fazer caber em uma mala roupas para enfiar na terra francesa, para suportar o verão turco e o começo do outono sueco.

Minhas roupas que me perdoem, mas vou deixar muitas delas pelo caminho.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Há um ano recebia o dia mais longo do ano com a esperança de que tudo seria melhor durante a nova estação. Esperança relativa, pois era difícil vislumbrar que as coisas pudessem ficar pior do que já estavam. O verão traria calor, nova rotina, dias espichados e noites de festa distantes das memórias ruins.

E ali estava de novo, quarta-feira passada, vestindo roupa na areia da praia, fechando os olhos para escapar das cinzas das fogueiras e bebendo sangria antes de pular as chamas e fazer três desejos.

Dessa vez, eu tinha franja e pulei a fogueira para espantar as bruxas, mas me recusei a fazer desejos. Cansei de pedir serenidade, o fim da insônia, a libertação do chocolate e uma estante definitiva onde deixar os penduricalhos que compro pelo mundo.

Ninguém pode me dar nada disso e eu já começava a parecer uma mendiga desesperada. Pedia para o Senhor do Bonfim, para as velas no bolo, para a primeira estrela da noite e agora para os espíritos celtas libertados no verão.

Entre 24 de junho de 2009 e 24 de junho de 2010, quem me deu o que eu queria fui eu mesma e acho bom que continue assim.

 

O conteúdo desse blog pode ser reproduzido apenas para fins não comerciais.

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